Archive for junho 2013

Amigo

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que um amigo se reconheça
sempre
na face de outro amigo
e nesse espelho descanse
seus olhos
e derrame sua alma
como a crina de um cavalo
levemente pousada no vento

(Roseana Murray)

Desejo

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que a poesia saísse
do seu esconderijo secreto
adormecida em superfície branca
como planta sobre as águas
e invadisse as ruas os muros
as camas as casas
entrasse pelas cabeças
tatuasse os corpos
arrancasse as máscaras
como um bicho vivo
de mil labaredas
e revertesse a ordem
habitual das coisas
e desaguasse luz e mistério
tornando os homens melhores

(Roseana Murray)

Poemas

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como pássaros ambulantes
poemas atravancam a mesa
sobram por todos os lados
debaixo do armário debaixo da casa
lençol d'água com que me cubro
misturados com tudo que de mais simples
e cotidiano
com o pavor de ser humana
tão absurdamente humana
que um corte no dedo já me lembra
a morte
meus poemas feitos do nada
de um pouco de susto e palavras
não me salvam de mim nem da areia
que os dias derramam
às vezes me ajudam a andar entre as paredes

(Roseana Murray)

Escrita

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com seus labirintos vazios
o que dói é a vida
o destino desarrumando as esquinas

um mistério atravessa
nossos olhos distraídos
como um barco que invisível
cruzasse as montanhas

o que dói é a vida
e sua indecifrável escrita

(Roseana Murray)

Gestos

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com que medida
se mede o amor?
com quantas luas
ou sóis oceanos
tormentas
com quantos pequenos
ou quase imperceptíveis gestos?
perfurmar a casa
fazer a cama
cortar o pão
rearrumar os sonhos

pronuncio o teu nome
e de muito longe
um oásis me habita
e o ar estremece
povoado de anjos

(Roseana Murray)

Nódulo

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quando em algumas noites
tenho medo dos vivos e dos mortos
e o fogo que escapa das estrelas
é uma faca na garganta
quando em algumas noites a distância
entre o que foi e o que está sendo
é arquitetura intransponível
e os sonhos fogem como peixes em agonia
a poesia é o grito secreto
a geografia que atravessa este abismo
o sortilégio que me faz humana
que me faz em chamas
que me faz tocar o nódulo
das perguntas sem resposta

(Roseana Murray)

Trecho do livro "Où on va, papa?", página 98

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"Ne pas être comme les autres, ça ne veut pas dire forcément être moins bien que les autres, ça veut dire être different des autres."

(Jean-Louis Fournier)

Trecho do livro "Où on va, papa?", página 17

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"Si un enfant qui naît, c'est un miracle, un enfant handicapé, c'est un miracle à l'envers."
(Jean-Louis Fournier)

Trecho do livro "Où on va, papa?", página 12

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"Faire un enfant, c'est un risque à courir... On ne gagne pas à tous les coups. Pourtant, on continue à en faire.
Chaque seconde sur Terre, une femme met un enfant au monde... Il faut absolument la retrouver et lui dire qu'elle arrête, a ajouté l'humoriste."

(Jean-Louis Fournier)

Trecho do livro "Coraline", página 59

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"- Porque - disse ela - quando você tem medo e faz mesmo assim, isso é coragem."

(Neil Gaiman)

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  acordei e me olhei no espelho
ainda a tempo de ver
  meu sonho virar pesadelo

(Paulo Leminski)

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  O que o amanhã não sabe,
o ontem não soube.
  Nada que não seja o hoje
jamais houve.

(Paulo Leminski)

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  nunca sei ao certo
se sou um menino de dúvidas
  ou um homem de fé

  certezas o vento leva
só dúvidas continuam de pé

(Paulo Leminski)

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leite, leitura,
letras, literatura,
  tudo o que passa,
tudo o que dura
  tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
  tudo, tudo, tudo
não passa de caricatura
  de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura

(Paulo Leminski)

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desastre de uma idéia
só o durante dura
aquilo que o dia adiante adia

estranhas formas assume a vida
quando eu como tudo que me convida
e coisa alguma me sacia

formas estranhas assume a fome
quando o dia é desordem
e meu sonho dorme

fome da china  fome da índia
fome que ainda não tomou cor
essa fúria que quer 
                              seja lá o que flor

(Paulo Leminski)

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Cabeças baixas por ruas vazias.
Será que estão todos vazios também? Ou cheios daquilo que nos destrói?
O silêncio gritante fala por si.
Será por isso que estão tão cheios de fones?
Deve ser.
Ninguém mais se escuta. Todos ouvem as dores alheias.
Cadê o tal do: "Conheça-te a ti mesmo".


(Emerson Ray)

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Você existe ou é só uma ideia boba que passa pela cabeça?
Que seja. Ninguém liga mais.
Nem os poetas.

(Emerson Ray)