Archive for março 2014

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"  tudo dito,
nada feito,
   fito e deito"

(Paulo Leminski)

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"  ano novo
anos buscando
    um ânimo novo"

(Paulo Leminski)

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" choveu
na carta que você mandou

  quem mandou?"

(Paulo Leminski)

Objeto sujeito

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" você nunca vai saber
quanto custa uma saudade
o peso agudo no peito
de carregar uma cidade
pelo lado de dentro
como fazer de um verso
um objeto sujeito
como passar do presente
para o pretérito perfeito
nunca saber direito

você nunca vai saber
o que vem depois de sábado
quem sabe um século
muito mais lindo e mais sábio
quem sabe apenas 
mais um domingo

você nunca vai saber
e isso é sabedoria
nada que valha a pena
a passagem pra pasárgada
xanadu ou shangrilá
quem sabe a chave
de um poema
e olha lá"
(Paulo Leminski)

Incenso fosse música

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" isso de querer
ser exatamente aquilo
  que a gente é
ainda vai
  nos levar além"

(Paulo Leminski)

Razão de ser

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" Esvrevo. E pronto.

Escrevo porque preciso,
  preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
  Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
  lembram letras no papel,
quando poema me anoitece.
  A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
  Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?"
(Paulo Leminski)

Pareça e desapareça

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" Parece que foi ontem.
Tudo parecia alguma coisa.
  O dia parecia noite.
E o vinho parecia rosas.
   Até parece mentira,
tudo parecia alguma coisa.
   O tempo parecia pouco,
e a gente se parecia muito.
   A dor, sobretudo,
parecia prazer.
   Parecer era tudo
que as coisas sabiam fazer.
   O próximo, eu mesmo.
Tão fácil ser semelhante,
   quando eu tinha um espelho
pra me servir de exemplo.
   Mas vice versa e vide a vida.
Nada se parece com nada.
  A fita não coincide
Com a tragédia encenada.
  Parece que foi ontem.
O resto, as próprias coisas contem."

(Paulo Leminski)

Sujeito indireto

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" Quem dera eu achasse um jeito
de fazer tudo perfeito,
  feito a coisa fosse o projeto
e tudo já nascesse satisfeito.
  Quem dera eu visse o outro lado,
o lado de lá, lado meio,
   onde o triângulo é quadrado
e o torto parece direito.
   Quem dera um ângulo reto.
Já começo a ficar cheio
   de não saber quando eu falto,
de ser, mim, indireto sujeito."

(Paulo Leminski)

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" o amor, esse sufoco,
agora há pouco era muito,
  agora, apenas um sopro

  ah, troço de louco,
corações trocando rosas,
  e socos"

(Paulo Leminski)

Bem no fundo

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" no fundo, no fundo,

bem lá no fundo,
  a gente gostaria
de ver nossos problemas
  resolvidos por decreto

  a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
  é considerada nula
e sobre ela - silêncio perpétuo

  extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
  lá pra trás não há nada,
e nada mais

  mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
  e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
  e outros pequenos probleminhas"
(Paulo Leminski)

Volta em aberto

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" Ambígua volta
em torno da ambígua ida,
  quantas ambigüidades
se pode cometer na vida?
  Quem parte leva um jeito
de quem traz a alma torta.
  Quem bate mais na porta?
Quem parte ou quem torna?"

(Paulo Leminski)

O que quer dizer

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para Haroldo de Campos, 
translato maximus
" O que quer dizer, diz.
Não fica fazendo
  o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
  coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
  Só se dizendo num outro
  o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz."
(Paulo Leminski)

Desencontrários

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"Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
 Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
 Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

 Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
 Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
 para conquistar um império extinto."

(Paulo Leminski)

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"Eu, hoje, acordei mais cedo
e, azul, tive uma idéia clara.
 Só existe um segredo.
Tudo está na cara."

(Paulo Leminski)

O mínimo do máximo

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"Tempo lento,
espaço rápido,
 quanto mais penso,
menos capto.
 Se não pego isso
que me passa no íntimo,
 importa muito?
Rapto o ritmo.
 Espaçotempo ávido,
lento espaçodentro,
 quando me aproximo,
simplesmente me desfaço,
 apenas o mínimo
em matéria de máximo."

(Paulo Leminski)

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"Transar bem todas as ondas
a Papai do Céu pertence,
 fazer as luas redondas
ou me nascer paranaense.
 A nós, gente, só foi nada
essa maldita capacidade,
 transformar amor em nada."

(Paulo Leminski)

A lei do quão

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"De ocorrer em breve
uma brisa que leve
 um jeito de chuva
a última branca de neve.

 Até lá, observe-se
a mais estrita disciplina.
 A sombra máxima
pode vir da luz mínima."

(Paulo Leminski)