Archive for dezembro 2012

Receita de ano novo


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Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo 
até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, 
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?) 

Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumadas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 

Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.

(Carlos Drummond de Andrade)

Trecho do livro "Auto da compadecida", página 149


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"MANUEL

Muito obrigado, João, mas agora é sua vez. Você é cheio de preconceitos de raça. Vim hoje assim de propósito, porque sabia que isso ia despertar comentários. Que vergonha! Eu Jesus, nasci branco e quis nascer judeu, como podia ter nascido preto. Para mim, tanto faz um branco como um preto. Você pensa que eu sou americano para ter preconceito de raça?"
(Ariano Suassuna)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", página 64


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"Enquanto aniquilamos aqueles que são culpados, pioram as relações sociais.

Porque os culpados não são culpados - claro.

Porque culpados são todos - somos todos -, claro.

Mas também somos vítimas - todos.

Ou aprendemos todos a sofrer como vítimas - que somos;

ou seremos todos vítimas termonucleares.

Não sou eu o bom e ele o coitado - ou o f. da p...

Somos os dois coitados
E f. da p..."

(José Ângelo Gaiarsa)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", página 63


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"[...] Passo imediatamente a implorar ao Deus que me mutila - e a odiá-lo.

Viver estes dois elementos inevitáveis é difícil - senão impossível.

Como viver duas atitudes tão contrárias como a da adoração e a de ódio?"

(José Ângelo Gaiarsa)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", página 46


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"Somos todo uma soma não muito congruente de meios papéis. [...]"
(José Ângelo Gaiarsa)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", página 38


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"Quanto melhor percebo o outro, mais confuso fico."
(José Ângelo Gaiarsa)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", página 38


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"NINGUÉM ENTENDE NINGUÉM.
NINGUÉM ENTENDE A SI PRÓPRIO.
NINGUÉM DESEJA ENTENDER-SE.
NINGUÉM QUER SER ENTENDIDO.
NINGUÉM PROCURA ENTENDER-SE
COM OS DEMAIS..."

(José Ângelo Gaiarsa)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", página 35


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"Todos estão alienados de algumas coisas ou de algum modo."
(José Ângelo Gaiarsa)


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"Quando se fala de pessoas que observam ou são observadas, convém não embarcar na ilusão de que o observador, pelo fato de ser observador, está isento de si mesmo.
Ninguém está isento de si mesmo e só podemos ver o outro através dos nossos olhos e de dentro de nossa perspectiva.
Vemos o mundo com nossa experiência. Isto é irremediável.
Conhecer é comparar."
(Piaget)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", página 30


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"DE QUALQUER MODO, OU VEMOS O QUE A PESSOA SENTE, OU PERCEBEMOS QUE ELA ESTÁ PRETENDENDO ESCONDER. COM ALGUMA PRÁTICA, PERCEBEMOS COM CLAREZA SUA MANEIRA DE ESCONDER AS COISAS - O QUE, AFINAL, É UM MODO DE REVELAR-SE."

(José Ângelo Gaiarsa)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", página 30


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"Para quem tem olhos de ver, todos estão NUS."
(José Ângelo Gaiarsa)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", página 23


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"Todos os espelhos são mágicos. Mostram apenas o que queremos."

(José Ângelo Gaiarsa)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", página 23


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"- Quantos quilos você pesa?  
 - Qual é o seu manequim?
 - Quantos anos você tem?
  (Que sujeito chato!) "
(José Ângelo Gaiarsa)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", página 15


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"O mundo, talvez, represente com mais fidelidade que o orador (oral+dor)."
(José Ângelo Gaiarsa)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", página 15


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"O mundo é uma soma de significados sem substância: um dicionário!"
(José Ângelo Gaiarsa)

Trecho do livro "O espelho mágico - um fenômeno social chamado corpo e alma", pág. 10-11


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"No diálogo com o outro quem está de costas é você que não se vê."
(José Ângelo Gaiarsa)

Trecho do livro "O lobo da estepe", página 63


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"[...] Pois não há um único ser humano, nem mesmo o negro primitivo, nem mesmo os idiotas, convenientemente simples, que possa ser explicado como a soma de dois ou três elementos principais [...]"
(Herman Hesse) 

Trecho do livro "O lobo da estepe", pág. 54-55


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"[...] 'Estou curioso por saber até que ponto um homem pode resistir. E quando alcançar o limite do suportável, basta abrir a porta e escapar.' Há muitos suicidas que extraem força extraordinária deste pensamento. "
(Herman Hesse) 

Trecho do livro "O lobo da estepe", pág. 53-54


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"[...] Entres estes suicidas que só o chegaram a ser por mero acaso, e de cuja essência do suicídio não fazem realmente parte. Entre os homens sem personalidade, sem características definidas, sem destino traçado, entre os homens incapazes e amorfos, há muitos que perecem pelo suicídio, sem por isso pertencerem ao tipo dos suicidas, ao passo que há muitos que devem ser considerados suicidas pela própria natureza de seu ser, os quais, talvez a maioria, nunca atentaram efetivamente contra a própria vida. O 'suicida' - e Harry era um deles - não precisa necessariamente viver em relações particularmente intensas com a morte; isto se pode fazer sem que se seja um suicida. É próprio do suicida sentir seu eu, certo ou errado, como um germe da Natureza, particularmente perigoso, problemático e daninho, que se encontrava sempre extraordinariamente exposto ao perigo, como se estivesse sobre o pico agudíssimo de um penedo onde um pequeno toque exterior ou a mais leve vacilação interna seriam suficientes para arrojá-lo no abismo. Esta classe de homens se caracteriza na trajetória de seu destino porque para eles o suicídio é a forma de morte mais verossímil, pelo menos segundo sua própria opinião. A existência dessa opinião, que quase sempre é perceptível já na primeira mocidade e acompanha esses homens durante toda sua vida, não representa, talvez, uma particular e débil força vital, mas, ao contrário, encontram-se entre os suicidas naturezas extraordinariamente tenazes, ambiciosas e até ousadas. Mas assim como há naturezas que caem em febre diante da mais ligeira indisposição, assim propendem essas naturezas a que chamamos 'suicidas' e que sempre são muito delicadas e sensíveis à menor comoção, a entregar-se intensamente à ideia do suicídio. Se tivéssemos uma ciência que possuísse coragem e autoridade suficientes para ocupar-se do homem, em vez de fazê-lo simplesmente no mecanismo dos fenômenos vitais, se tivéssemos uma verdadeira Antropologia, uma verdadeira Psicologia, tais fatos seriam conhecidos de todos.

O que foi dito acima a propósito dos suicidas só diz respeito obviamente à superfície; é psicologia, portanto uma parte da física. Do ponto de vista metafísico, o assunto aparece de outra forma e muito mais claro, pois, vistos assim, os  'suicidas' se nos apresentam como perturbados pelo sentimento de culpa inerente aos indivíduos, essas almas que encontram o sentido de sua vida não no aperfeiçoamento e moldagem do ser, mas na dissolução, na volta à mãe, a Deus, ao Todo. Muitas dessas naturezas são inteiramente incapazes de cometer o suicídio real, porque têm uma profunda consciência do pecado que isso representa. Para nós, entretanto, são, apesar disso, suicidas, pois vêem a redenção na morte e não na vida; estão dispostos a eliminar-se e a entregar-se, a extinguir-se e a voltar ao princípio."
(Herman Hesse)

Trecho do livro "O lobo da estepe", página 51


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"[...] Nenhuma ideia lhe era mais odiosa e terrível do que a de exercer um cargo, submeter-se a horários, obedecer a ordens. [...]"
(Herman Hesse)

Trecho do livro "O lopo da estepe", página 30


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" [...] Quando não encontro nem um nem outro e respiro a morna mediocridade dos dias chamados bons, sinto-me tão dolorido e miserável em minha alma infantil, que atiro a enferrujada lira do agradecimento à cara satisfeita do sonolento deus, preferindo sentir em mim uma verdadeira dor infernal do que essa saudável temperatura de um quarto aquecido. Arde então em mim um selvagem anseio de sensações fortes, um ardor pela vida desregrada, baixa, normal e estéril, bem como um desejo louco de destruir algo, seja um armazém ou uma catedral, ou a mim mesmo, de cometer loucuras temerárias, de arrancar a cabeleira a alguns ídolos venerandos, de entregar a um casal de estudantes rebeldes os ansiados bilhetes de passagem para Hamburgo, de violar uma jovem ou de torcer o pescoço a algum defensor da ordem e da lei. Pois o que eu odiava mais profundamente e maldizia mais, era aquela satisfação, aquela saúde, aquela comodidade, esse otimismo bem cuidado dos cidadãos, essa educação adiposa e saudável do medíocre, do normal, do acomodado."
(Herman Hesse)

O relógio


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"Diante de coisa tão doida
Conservemo-nos serenos

Cada minuto da vida
Nunca é mais, é sempre menos

Ser é apenas uma face
Do não ser, e não do ser

Desde o instante em que se nasce
Já se começa a morrer."

(Cassiano Ricardo)

Tes rêves? Suis-les!


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Je suis une rêveuse


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"Não ouse desistir de tudo que sonhou."
(Rodrigo Tavares)

Trecho do livro "O lobo da estepe", pág. 26-27


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"Uma palavra de Haller deu-me a chave dessa compreensão. Disse-me ele, certa vez, quando falávamos a propósito das chamadas crueldades da Idade Média:
- Tais horrores na verdade não existiram. Um homem da Idade Média condenaria totalmente o nosso estilo de vida atual como algo muito mais cruel, terrível e bárbaro. Cada época, cada cultura, cada costume e tradição têm o seu próprio estilo, têm sua delicadeza e sua severidade, suas belezas e crueldades, aceitam certos sofrimentos como naturais, sofrem pacientemente certas desgraças. O verdadeiro sofrimento, o verdadeiro inferno da vida humana reside ali onde se chocam duas culturas ou duas religiões. Um homem de antiguidade, que tivesse de viver na Idade Média, haveria de sentir-se tão afogado quanto um selvagem se sentiria em nossa civilização. Há momentos em que toda uma geração cai entre dois estilos de vida, e toda a evidência, toda a moral, toda a salvação e inocência ficam perdidos para ela. Naturalmente isso não atinge a todos da mesma maneira. uma natureza como a de Nietzsche teve de sofrer a miséria da época atual há mais de uma geração antes da nossa; tudo quanto teve de suportar sozinho e incompreendido, é o mesmo de que hoje padecem milhares de seres humanos."

(Herman Hesse)

Trecho do livro "O nome da rosa", página 430


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"Bêncio corou violentamente. 'Eu não sou um assassino!' protestou.
'Ninguém o é, antes de cometer o primeiro crime.', disse filosoficamente Guilherme."

(Umberto Eco)

Trecho do livro "O nome da rosa", página 377


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" Mas o unicórnio é uma mentira? É um animal dulcíssimo e altamente simbólico. Imagem de Cristo e da castidade, ele só pode ser capturado pondo uma virgem no bosque, de modo que o animal ao sentir seu cheiro castíssimo vá pousar a cabeça em seu regaço, tornando-se presa dos laços dos caçadores.'
'Assim é dito, Adso. Mas muitas se inclinam a achar que seja uma invenção fabulística dos pagãos.'
'Que deceção', eu disse. 'Gostaria de encontrar um deles atravessando um bosque. De outro modo, que graça tem atravessar um bosque?"

(Umberto Eco)

Trecho do livro "O nome da rosa", página 348


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"Tal é a magia dos falares humanos, que por humano acordo significam frequentemente, com sons iguais, coisas diferentes."

(Umberto Eco)

Trecho do livro "O nome da rosa", página 295


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"[...] 'A chama consiste numa esplêndida clareza para reluzir e o ígneo ardor para queimar."

(Umberto Eco)

Trecho do livro "O nome da rosa", página 285


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"O que é o amor? Não existe nada no mundo, nem homem, nem diabo, nem qualquer coisa, que eu considere tão suspeito como o amor, pois este penetra mais a alma que outra coisa qualquer. Não há nada que ocupe tanto e amarre o coração como o amor. Por isso, a menos que não tenha as almas que a governam, a alma cai, pelo amor, numa imensa ruína."

(Umberto Eco)