O Pequeno Filósofo, pág 11-13


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"Recordo-me de um dos nossos primeiros diálogos.
- Por que você não deu um sorriso quando ela brincou com você? - ele me perguntou.
- Está falando comigo?
- Só estamos nós dois aqui.
- Eu não prestei muita atenção. Não percebi que era uma brincadeira.
- Você não prestou atenção.
- Engoliu o disco?
- Não. Nem vi.
- É uma maneira de dizer.
- O quê?
- Uma maneira de dizer que você está se repetindo.
- E há algum mal nisso?
- Há.
- Há tanta coisa que se repete e é tão bonita.
- Como o quê?
- Você não sabe?
- Não.
- Viu como o dia está hoje?
- Vi.
- Não. Você não viu.
- Bem. Então, estou vendo agora.
- Já passou.
- O quê?
- Aquele instante.
- Qual instante?
- Aquele em que eu lhe perguntei se tinha visto como o dia estava bonito.
- Sim. Mas há outro instante agora. E depois haverá outro.
- Você tem razão. Mas aquele já foi. Que pena! Foi tão bonito!
- Bem, eu nem sei o que dizer. [...]"

(Gabriel Chalita)

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